À frente da associação que reúne 43 instituições com faturamento de R$ 7,5 bilhões em 2010 e 14% do total das despesas assistenciais do setor suplementar de saúde, Luiz Mota conversou com excluisividade com a Diagnóstico sobre os projetos e perspectivas da Anahp para os próximos anos.
Diagnóstico – Como será a sua atuação à frente da ANAHP?
Luiz Mota – Vamos trabalhar forte na capacitação e qualificação dos profissionais internos dos associados de forma mais ativa. Entendemos que é absolutamente essencial para a qualidade do serviço que os colaboradores estejam capacitados para melhorar a sua performance. A segunda grande questão é a busca por mudanças no modelo assistencial vigente. Sou um homem de diálogo, de construção. Como representante dos prestadores, o papel da ANAHP é contribuir na construção de um modelo de remuneração que considere questões de qualidade e performance e não só o pagamento por produção. É dessa forma que vamos conseguir melhorar a assistência – nosso objetivo final. Não por caso, pretendo buscar também uma relação muito mais próxima com os médicos e com as entidades representativas das categorias médicas, operadoras de saúde e a ANS. Tudo isso para que tenhamos um modelo de remuneração e assistência melhor do que temos hoje. Além disso, vamos dar continuidade a projetos já consagrados, como o Melhores Práticas e o Observatório da ANAHP. Temos ainda um projeto de compras conjuntas para a área de medicamentos e queremos estendê-lo para outros itens que fazem parte do cotidiano dos hospitais, de modo a oferecer preços mais competitivos na relação com as operadoras e os usuários.
Diagnóstico – O Nordeste possui apenas seis associados na ANAHP, contra 37 instituições “sulistas”. Por que essa diferença?
Mota – O processo de acreditação hospitalar no Brasil teve início nas regiões Sul e Sudeste. No Nordeste, esse processo começou mais tarde. Só muito recentemente as instituições começaram a se engajar na busca por acreditações – um pré-requisito exigido pela ANAHP desde a sua constituição. Isso é algo que, a meu ver, explica essa diferença. Mesmo assim, acredito que a região já tem uma representação muito importante na nossa instituição, com hospitais bastante qualificados.
Diagnóstico – E há metas de crescimento?
Mota – No Brasil como um todo, buscamos nos consolidar como representantes dos melhores hospitais, perseguindo qualidade, segurança ao paciente e boas práticas assistenciais. Sendo assim, nossa ideia não é crescermos por crescermos. Os hospitais nos procuram para fazer parte do quadro de associados, a partir de critérios muito objetivos de qualidade e qualificação. Essas são exigências das quais não abrimos mão. A ideia é, justamente, crescer aos poucos, representando aquilo que para nós é essencial: qualidade, segurança do paciente e construção de um modelo de assistência que seja bom para o usuário e para o sistema suplementar.
Diagnóstico – A prática de benchmarking ainda é pouco comum entre os prestadores. Qual a dimensão do Observatório ANAHP no estímulo à troca de boas experiências?
Mota – Fazemos continuamente processos de benchmarking entre os associados, com base nos indicadores que compõem o Observatório. Cada hospital é analisado individualmente por meio de critérios de apuração que asseguram a uniformidade dos dados. A busca por esses indicadores é feita por uma empresa terceirizada de forma absolutamente transparente e sigilosa. Não divulgamos de quem são os dados, mas fornecemos uma comparação entre o conjunto dos associados, possibilitando para cada instituição, individualmente, a comparação com as demais. Para nós, trata-se de uma contribuição que está se transformando em um exemplo para os outros hospitais que não estão na ANAHP.
Diagnóstico – Quais os principais resultados do novo modelo de governança corporativa da ANAHP?
Mota – A partir de um planejamento estratégico, definimos que a governança tenha uma representação do conjunto dos hospitais por região. Cada região é contemplada com um participante, pelo menos, entre os nove integrantes do conselho. Além disso, passamos a ter uma superintendência corporativa, que nos representa nos trabalhos cotidianos da entidade. Na medida em que profissionalizamos a administração, nós, representantes dos hospitais, podemos tratar das questões mais estratégicas.
Diagnóstico – Como o senhor avalia o sistema público de saúde brasileiro?
Mota – Sou um dos que acreditam no SUS, que ainda é jovem e precisa se consolidar do ponto de vista da prática. Os recursos disponíveis não dão conta do conjunto de responsabilidades que estão colocadas frente ao sistema, já que ele é universal e gratuito. Precisamos melhorar o marco regulatório, definir fontes seguras de financiamento e avançar nas parcerias público-privadas. É uma forma de agregarmos valor. São Paulo tem uma experiência consolidada com as organizações sociais em saúde e avançou consideravelmente na qualidade dos serviços. Podemos fazer isso para o Brasil como um todo. É preciso chamar a iniciativa privada para participar também.
Diagnóstico – A presidência da ANAHP é o maior desafio da sua carreira?
Mota – Do pondo de vista da representação política no sistema de saúde, eu diria que sim. Foi uma honra para mim assumir a presidência da ANAHP.